terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O TEMPO E AS JABUTICABAS.

RUBEM ALVES.
Filósofo,Teólogo,Psicanalista,Escitor,Professor.

Contei meus anos e descobrir que terei menos tempo para viver daqui prá frente do que já vivi até agora. Tenho mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente. Mas percebendo que faltavam poucas, roi o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir que eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis. Para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias, que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareações de desafetos que brigam pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos; quero essência. Minha alma tem pressa. Sem muitas jabuticabas na bacia quero viver ao lado de gente humana, muito humana. Que sabe rir de seus tropeços. Não se encantam com triunfos. Não se considera eleita antes da hora. Não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E, para mim, basta o essencial!
Ruben Brangas

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