sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

HAITIANOS CHEGAM AO BRASIL...



Haitianos chegam ao Brasil com sonho de conseguir emprego
Maioria quer enviar dinheiro para a família que ficou no Haiti.
Ginásio em Brasiléia (AC) está sendo preparado para servir de abrigo.
Luciana Rossetto


Grupo de imigrantes do Haiti em Brasiléia (AC) (Foto: Gleilson Miranda/Agência de Notícias do Acre)
Recém-chegada do Haiti, uma mulher identificada como Ilana Sadius, de 27 anos, trabalha na cozinha improvisada na paróquia de Brasiléia, no Acre. Ela ajuda a preparar a comida para cerca de 160 haitianos que começaram a chegar à cidade em dezembro, em busca de refúgio, enquanto aguarda a entrega dos novos documentos para procurar emprego e ajudar a família.
A viagem dos haitianos até o Brasil é longa, dura até dois meses por países da América Central e América do Sul. Os imigrantes deixam o Haiti em direção à República Dominicana, onde pegam um voo para o Panamá e depois ao Equador. Alguns partem de navio direto para o Panamá e seguem em embarcações até o Equador. O trajeto de lá é igual: pegam um ônibus para atravessar o Peru e finalmente chegar ao Brasil. A parte final da viagem costuma ser feita a pé.

(Editoria de Arte/G1)
Os imigrantes entram no país por Assis Brasil (AC) e seguem para Brasiléia, onde fazem a solicitação de ingresso no país e iniciam o processo para conseguir documentos. O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Henrique Corinto, disse ao G1 que 109 imigrantes haitianos já foram cadastrados em Brasiléia e existem cerca de 50 que ainda não foram identificados.
Segundo Corinto, na Polícia Federal, os estrangeiros são orientados a pedir refúgio ou visto de permanência no Brasil. “Nós estamos dando um apoio humanitário mínimo, porque eles chegam aqui sem nada. Damos a alimentação e abrigo, porque não têm onde ficar. Para transitar pelo país, eles precisam dessa autorização do Ministério da Justiça, que chega pela Polícia Federal. Então, podem ir para outros estados procurar trabalho. Alguns têm interesse em sair do país, ir para os Estados Unidos ou o México. Outros querem trabalhar em obras em Rondônia ou ir para São Paulo”, disse Corinto.
Além de alimento e abrigo, o governo do estado, em parceira com a prefeitura, oferece assistência médica aos recém-chegados. Eles fazem exame para detectar Aids, cólera e outras doenças, além de tomar vacinas contra hepatite, tétano e febre amarela.
“Eu tenho que trabalhar, porque tenho que socorrer minha família que ficou lá [no Haiti] e não tem nada. Tive muitos parentes mortos com cólera. Precisamos de trabalho para mandar algo para quem está lá. Os brasileiros estão nos ajudando. Gosto muito do Brasil”, afirmou Ilana por telefone ao G1.
Os dois filhos dela, de 9 e 6 anos, ficaram no Haiti sob os cuidados de sua mãe. Ela também deixou lá o marido, que está doente há cinco anos e não pode trabalhar. “Tenho que ajudar a manter minha mãe e meu marido. Por isso saí de lá, para poder ajudar”.
Sonho de ajudar a família
Junto com Ilana, outros cinco haitianos trabalham na cozinha da paróquia de Brasiléia. A haitiana identificada como Rosimarie Dorleans, de 51 anos, ainda não decidiu se permanece no Acre, mas afirma que quer ajudar a família. “Deixei mãe, meus irmãos e minha família. Temos grandes problemas lá, como o cólera e a Aids, e o Brasil é muito bom. Aqui todo mundo ajuda. Para chegar, foi difícil, no caminho, todo mundo me pedia dólares, mas estou bem agora”, disse.
saiba mais
Sobreviventes do tremor enfrentam aumento de casos de estupro no Haiti
Haiti contabiliza mais de 3.700 mortes com surto de cólera
Um ano depois do terremoto, missão da ONU não tem data para deixar o Haiti
Brasileiros no Haiti relatam desafios do país um ano após terremoto
Cobertura completa: terremoto no Haiti
O haitiano identificado como Juden Samfa, de 32 anos, passa o tempo ajudando na paróquia, mas já procura trabalho. “Levei 22 dias de viagem. Minha família está lá, depois talvez deixem o Haiti. Tenho primos que morreram no terremoto e por doenças. Minha mãe e meus irmãos estão vivos. Três amigos meus morreram com cólera”, disse o rapaz. “Eu gosto do Brasil. Tentei entrar no Equador, mas lá não me agrada. Tentei o Peru, mas também não gostei. O Brasil é melhor.”
Abrigo
O padre Rutemarque Crispim explica que os imigrantes estão em pousadas na cidade, mas um ginásio cedido pela prefeitura está sendo preparado para servir de abrigo a eles. De acordo com o padre, 80% dos imigrantes são homens.
“Para pagar a viagem ao Brasil, eles tiveram de juntar dinheiro e, quando chegaram, ainda tinham uma economia. Eles foram para as pousadas, mas começaram a ser expulsos por falta de pagamento na semana passada. Foi quando o governo garantiu a permanência deles lá até que o ginásio seja preparado. Já conseguimos colchões e estamos pedindo barracas ao Exército, para que tenham um mínimo de privacidade”, disse.
Segundo Crispim, que convive mais proximamente com os refugiados, nem todos são trabalhadores braçais. “Alguns falam três, quatro línguas. Há pedreiros, carpinteiros, mas temos advogados, professores e contadores aqui”, afirmou.
O padre pretende, agora, organizar aulas de português na paróquia para facilitar a integração deles no Brasil. A maioria fala francês, crioulo, e um pouco de espanhol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário