sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

BATISTA TRADICIONAL, SIM, SENHOR!!

Estava eu no meu caminho quando um pastor batista, fazendo uma
meditação devocional no Velho Testamento, saiu-se com esta: "O que os
batistas tradicionais têm de entender é que os tempos são outros."
Confesso que aquela frase me incomodou. Não só porque tal declaração
não se encaixava no texto bíblico, em questão, mas também pela altivez
e o sarcasmo com que foi mencionada.
Estou acostumado a este tipo de argumentação, não vindo dos nossos,
mas de alguns grupos pentecostais e carismáticos que, julgando-se donos
de toda a verdade cristã, nos tratam como sub-cristãos. Mas, agora,
Aquela empáfia vinha do nosso arraial, e o colega em causa referia-se a nós
Como espécies de igrejas que jogam na segunda divisão do cristianismo.
No meio batista, hoje, o termo tradicional assumiu um sentido
Pejorativo. Para alguns, o tradicional é o saudosista: aquele que
defende, zelosamente, as formas de culto, os métodos de trabalho e os
pormenores de organização eclesiástica de cinqüenta anos atrás.
Hoje, as igrejas evangélicas no Brasil se parecem com McDonald. É que
quem conhece essa cadeia de fast-food sabe que ao pedir um Big-Mac, em
qualquer parte do mundo, receberá o mesmo sanduíche. É tudo
igualzinho, não muda nada. Com o perdão do neologismo, estamos vendo a
"Mcdonaldização" das igrejas evangélicas no Brasil. Todas cantam e
imitam a Ana Paula Valadão. Todas cantam os mesmos corinhos em altos
decibéis, com aqueles mesmos sermõezinhos inócuos, todas usam os
velhos e vazios chavões, sempre as mesmas repetições. Quem foge disso
é visto como mumificado e ultrapassado. Numa palavra: tradicional. 
Esta gente se esquece que os "tradicionais" firmaram o evangelho no
mundo. Foram os grupos históricos, tradicionais, que chegaram aqui, no
final do século XIX, para evangelizar o Brasil. Entre os batistas, foi
gente da cepa de Wiliam Bagby, Salomão Ginsburg, Francisco Soren e
outros que deixaram a base da nossa fé. Tivemos mártires. Tivemos
templos incendiados, Bíblias queimadas e pastores perseguidos. Abrimos
seminários, inclusive os que formaram os líderes desta gente que hoje
tanto nos critica. Fizemos traduções da Bíblia. Criamos universidades,
faculdades, colégios e hospitais. Construímos uma identidade
evangélica com suor e com sangue.
Além disso, deixamos um legado ético, lamentavelmente, tão esquecido
hoje no arraial evangélico. Ainda somos vistos como gente séria, de
palavra digna de ser respeitada, porque assumimos um compromisso com
Deus e com os valores do evangelho.
Se ser batista tradicional é não ser exótico e querer honrar a Jesus,
então sou tradicional. Se ser batista tradicional é querer ter o
caráter de Cristo em sua vida, então sou tradicional. Se ser batista
tradicional é privilegiar conteúdo bíblico, ao invés de gritos e
barulhos em cultos públicos, então sou tradicional. Se é cultivar
reverência e temor a Deus em tudo o que faz, até mesmo no culto
comunitário, então sou tradicional. Se ser batista tradicional é
entender que o culto que Deus aceita é prestado com a nossa vida, 24
horas por dia; e não naquele período que se passa dentro de um salão
de cultos, aos domingos, então sou tradicional.
Respeito grupos evangélicos que têm práticas e crenças diferentes das
minhas. Que Deus os abençoe. Só queria entender que tipo de
experiência profunda com Deus tem um homem que, ao invés de torná-lo
cheio do Fruto do Espírito (Gálatas 5.22,23), faz dele uma pessoa
besta e cheia de empáfia.
Pastor Renato Cordeiro de Souza (Primeira Igreja Batista em Teresópolis/RJ)
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"Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e
continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento". (C. S. Lewis)

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