domingo, 19 de fevereiro de 2012

O EXEMPLO DAS LEGIÕES CELESTES


O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, fez nesta última quarta-feira um movimento de reaproximação com a bancada Evangélica. O discurso teve o objetivo de frear manifestações contrárias à ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, histórica defensora da legalização do aborto. Na ocasião, o ministro revelou uma mensagem da presidente Dilma Rousseff de que mantém todos os compromissos assumidos com o setor durante a campanha eleitoral, como o de que o governo não irá patrocinar mudanças na atual legislação sobre o aborto. O ministro ainda pediu desculpas aos integrantes da Frente Parlamentar Evangélica pelo efeito de declarações dadas durante o Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre. Na ocasião, ele falou sobre o crescimento da comunidade Evangélica, em especial na classe C e da necessidade midiática de confrontá-la. O ministro fora chamado de safado pelo senador Magno Malta, da bancada Evangélica, que ameaçou conclamar todos os cristãos a reagirem, realizando grandes passeatas “em defesa da vida”.
O episódio confirma uma tese que tenho exposto com alguma frequência, de que os chamados Evangélicos são hoje a única força organizada de resistência ao processo de decadência ética e moral a que a sociedade brasileira está submetida. Como católico, lamento que a minha igreja - mas felizmente ainda não os fiéis - esteja infiltrada de religiosos marxistas, em suas novas roupagens e matizes. Entristecido, constato a omissão e até conivência de parte expressiva dos dirigentes da Igreja Católica brasileira, no que se refere à degradação dos valores cristãos tradicionais da nossa sociedade.
À exceção da Igreja Universal do Reino de Deus, praticamente alinhada com os grupos de esquerda ora no poder, as demais Igrejas Evangélicas, com sua imensa capacidade de mobilização, representam uma importantíssima força viva no cenário nacional.
A Frente Parlamentar Evangélica, constituída por mais de setenta congressistas, entre deputados federais e senadores de diferentes organizações partidárias, tem atuado unida na defesa de vários princípios religiosos inerentes ao cristianismo.
A expressão - e o peso político - desse grupo pode ser avaliada pelo imediato recuo de elementos do atual governo federal, como o ministro Gilberto Carvalho e a própria presidente Dilma. Não deve ter sido fácil para um governo ateu pedir “perdão” aos nossos irmãos Evangélicos. Mas não se iludam com a falsa nobreza de tal gesto. Na verdade foi apenas um recuo tático. A guerra dos materialistas contra a cristandade está declarada. Espera-se, a exemplo do que aconteceu na Igreja Católica, a infiltração sorrateira de inimigos de Deus no seio das comunidades Evangélicas. A tática inicial é bem conhecida: aproveitar-se do perfil intimista dos cristãos, muito voltados para o trabalho de evangelização e “pregar” no seio das comunidades uma atitude meramente contemplativa no que se refere às “coisas do mundo”. Ou seja, uma forma subliminar de alienação do crente e transformá-lo num “rebanho” dócil e de fácil condução. Outro provável procedimento dos ímpios será (como aliás foi mencionado pelo ministro Gilberto Carvalho) usar a mídia controlada para atacar os Evangélicos, criando “escândalos” (corrupção, pedofilia envolvendo pastores, etc), bem como os classificando de retrógrados e ignorantes. Observem como as redes sociais já estão infestadas de grupos que detratam os cristãos.
O episódio do pedido de “perdão” do ministro ateu, merece outro enfoque. É o reconhecimento da necessidade de representação política. Um dos equívocos da Revolução de 1964 foi a frustrada tentativa de “corrigir” a classe política. Os chamados governos militares não se preocuparam adequadamente com a formação de novas lideranças políticas - especialmente no meio universitário e acadêmico - para oxigenar o Poder Legislativo. O resultado, é que meio século depois, ainda somos “assombrados” (e até governados...) por remanescentes daquele sistema.
A Frente Parlamentar Evangélica, como representação política, é um exemplo que pode e deve ser seguido por outros segmentos da sociedade brasileira. Inclusive por nós, militares da reserva das Forças Armadas.
Acredito firmemente que temos um enorme potencial de formar uma frente parlamentar que represente o pensamento de milhões de brasileiros insatisfeitos com a atual classe política. Seria uma nova proposta dentro da mesmice lamentável que há décadas predomina no legislativo. Oxigenar, renovar, substituir, melhorar. Revelar ao povo o imenso contingente de bons brasileiros que aí estão, quase sempre incógnitos, mas que ao primeiro toque de reunir se aglutinariam para lutar o bom combate.
Claro que não seria fácil. Mas porque não encarar os obstáculos como decorrentes do esforço para o cumprimento da missão? Assim não fomos preparados? Anos a fio não demos sangue, suor e lágrimas pela nossa pátria? Será que a passagem para a reserva representa, necessariamente, o abandono de todo esse ideário?
Uma das causas dessa postura de omissão é decorrente da doutrina (correta no passado, equivocada nos dias atuais) de incutir nos militares a visão de que são apolíticos. Na democracia, ser apolítico é negar a cidadania. Temos que ser políticos, deixar surgir, naturalmente, as lideranças que nos irão defender e representar nos Poderes Públicos. É evidente que não me refiro a permitir ações partidárias em organizações militares, o que será sempre indesejável. Mas há que se criar uma cultura política no meio militar. Onde a prática política seja vista como missão cívica e ação patriótica, ainda que fora dos quartéis ou da carreira.
Hoje é comum em nossos círculos torcermos o nariz quando algum companheiro manifesta a vontade de ingressar na política. Considero uma atitude lamentavelmente equivocada, cuja consequência é o isolamento cada vez maior dos militares na sociedade e o irremediável afastamento do centro de poder nacional.
Claro que reconheço o acerto em manter as Forças Armadas afastadas da política. Mas considero que seria estrategicamente adequado estimular os militares a participarem, na inatividade, de ações político-partidárias. Quem sabe, até mesmo, preparando-os para as novas missões. Na Reserva, somos um imenso Exército de bons brasileiros, assistindo, quase sempre passivamente, à desintegração da sociedade nacional, engolida por um processo de mudança que não se coaduna com os princípios e valores que forjaram o nosso país e que tão bem nos foram passados na caserna. Que o exemplo das legiões celestes dos Evangélicos possa nos inspirar na luta pela retomada dos destinos do Brasil.
*Sérgio Pinto Monteiro.
*o autor é professor, historiador e Oficial da Reserva Não Remunerada do Exército Brasileiro. É presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil e membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto Campo-Grandense de Cultura. É autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (Ed. CNOR, 2006)

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